Me lembro que quando era mais nova, achava que a minha mãe não saia da cozinha. Olhava ela lá e pensava: caramba, mas que perda de tempo ficar o dia todo fazendo comida e ainda ter que lavar louça. Que saco!
Me lembro que ela vivia falando que quando eu
completasse oito anos teria que ajudá-la nos afazeres domésticos. Não ia ter
conversa! Mas esse dia nunca chegou...
Quando me casei não precisava fazer nada,
afinal, tinha uma pessoa que limpava minha casa uma vez por semana e eram raras
as vezes em que me arriscava na cozinha.
Nos finais de semana, meu marido e eu
gastávamos o gordo vale refeição que ganhávamos das empresas em que
trabalhávamos. Quase nunca estávamos em casa, vivíamos trabalhando e no final
das contas, nossa casa funcionava mais como um lugar para dormir e tomar banho
(quem se identifica?).
Mas as coisas mudam, e no meu caso começaram a
mudar quando resolvemos mudar de país. Um país da cultura do "faça você
mesmo". Um país que valoriza imensamente o trabalho de um Cleaner. E o que
isso quer dizer? Que bye bye a vida de alguém fazendo as coisas por você. Bye
bye a vida de alguém limpar a sua casa. Mas é claro que se você tiver dinheiro
pode pagar por isso. O difícil é ter dinheiro pra isso.
Daí lembrei outro dia que na época em que fazia
análise no Brasil vivia falando que queria mais independência, queria conseguir
fazer as coisas por mim.
Com o tempo percebi que a independência que
queria não era financeira ou relacionada ao trabalho, essa sempre tive. Era a
independência para fazer as coisas por mim mesma - desde pagar minhas contas à
fazer um shimeji na manteiga com anchovas e alcaparras - era limpar a minha
própria casa (afinal sou eu que sujo) e me sentir bem por isso, sem estar
perdendo tempo, sem drama, sem enrolação.
Descobri que independência é passar horas
cozinhando com meu marido, bebendo vinho, mandando ele sair do meio, e me
sentir extremamente feliz por estar ao lado dele desfrutando de tudo isso. É a
indepência da reclamação, de sentir que tudo é um fardo e da auto piedade.
Nada é perda de tempo a partir do momento em
que é feito por amor. Hoje eu entendo isso e valorizo ainda mais tudo que minha
mãe fez por mim, porque no final das contas hoje faria o mesmo se tivesse
filhos. No fim, descobri que independência acima de tudo, é poder fazer algo
por mim e pelas pessoas que amo. Porque se não for pra eles, vou fazer por
quem?
Beijos!
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